Marcos Donizetti
1 min readJun 14, 2019

Clóvis Rossi

Clóvis Rossi foi meu primeiro colunista. Início dos anos 90, 14 para 15 anos, os professores diziam "esteja sempre informado" e, sem internet, vamos economizar uns trocados com muito esforço e assinar um jornal. A Folha. A Folha e sua página 2 e o Clóvis Rossi. Eu já não o lia regularmente e confesso não ler a Folha, que felizmente hoje a imprensa é muito mais diversa e não temos as limitações geográficas, assino o feed de 10, 15 jornais. Mas li o Clóvis durante uns 20 anos. O cada vez mais raro caso de alguém que podíamos discordar e admirar. Eu não precisava abrir o jornal regularmente mas havia o quentinho de saber que o Clóvis Rossi estaria lá, assim como, sei lá, o Silvério estará narrando os jogos do meu São Paulo contra o Palmeiras dele. Envelhecer tem suas dificuldades: a memória falha, a dor nas costas, as ressacas físicas e morais cada vez maiores. A gente se acostuma, mas me dói a perda desses nossos marcadores, a coluna que você cresceu lendo, a banda, o âncora do rádio, a atriz das noites de TV. Os grandes e traumáticos lutos sempre virão e quando acontece a gente respira fundo e segue, mas a perda desses nossos pedacinhos de cotidiano dá uma dor ardida, que dói até sem avisar, um desamparo contínuo. É como se a gente mesmo estivesse virando fumaça, devagarinho.

Marcos Donizetti

Psicólogo paulistano. Fã de Leminski, de Ali e do Superman. Filho de Ogum e do Pós-estruturalismo. https://marcosdonizetti.substack.com/